quarta-feira, 20 de junho de 2012

Meu pai

Meu pai foi um dos relacionamentos mais difíceis que eu tive na vida. Me lembro que quando eu era criança (por volta dos cinco anos) ele tentou cometer um suicídio. Eu não entendia as coisas direito naquela época (e talvez nunca chegue a entender), mas me recordo da correria, das marcas de sangue no chão (ele cortou os pulsos e saiu andando para um canavial que tinha próximo a nossa casa), do som da ambulância, carro de polícia....na verdade são flashs que vem a minha memória...

Passada essa época, nos mudamos de bairro e lembro que as coisas ficaram piores, ele bebia bastante e depois de um tempo começou a beber ainda mais. E as brigas com minha mãe eram frequentes. Brigas feias, de ele querer bater nela e tudo...até que chegou a um ponto em que as coisas ficaram insuportáveis e como ele já tinha uma outra mulher nessa época, ele foi morar com ela.

Lembro, durante a separação, de ter que ir ao fórum e dizer para o juiz se eu queria ficar com minha mãe ou meu pai...escolhi ficar com minha mãe. E assim foi. Eu e minha irmã mais nova ficamos com a minhã mãe. Mudamos nós três para o bairro onde moro até hoje.

Depois disso fiquei um tempo sem ver meu pai, depois ele aparecia de vez em quando para querer voltar com a minha mãe, mas nunca dava certo por que ele já tinha outra mulher. Então ele sumiu por vários anos...até que começamos a receber notícias dele aleatoriamente...que continuava bebendo, que estava trabalhando em tal lugar, que estava morando em tal lugar, etc...

As notícias que chegavam foram ficando cada vez piores...que ele estava doente e cada vez mais doente. Minha irmã mais nova e meus irmãos mais velhos sempre iam na casa dele para visitá-lo. Eu resistia a ir. Lembro de ter ido umas três ou quatro vezes. Até que no ano em que eu sofri um acidente de carro, assim que eu recebi alta e cheguei em casa fiquei sabendo de que ele estava no hospital e tinha sido diagnosticado com cancêr na garganta em fase terminal.

Passado um tempo fui com minha mãe e minha irmã mais velha visitar meu pai no hospital. E quando eu cheguei lá quase não o reconheci de tão magro que ele estava. Ele estava muito debilitado e não conseguia falar. Lembro que eu também não falei nada, apenas segurei na mão dele e sorri. Ele ficou me olhando e sorriu de volta. Até hoje me emociona lembrar esse momento. Foi a última vez que o vi com vida. Menos de um dia depois ele havia falecido.

No dia do enterro encontrei com vários parentes que eu não conhecia. Os irmãos do meu pai também tinham morrido jovens (meu pai tinha 59 anos quando faleceu) e só tinha uma irmã que ainda é viva. Vieram os familiares dele de Ibitinga, que minha mãe conhecia, e alguns amigos, vizinhos e colegas de trabalho. Ele foi enterrado no cemitério da Ressureição aqui e Piracicaba.

continua....

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